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Desafios e perspectivas da agricultura familiar em debate

o público atento no auditório da Federação: de um lado, o economista do
Dieese, Sérgio Mendonça, que analisou a conjuntura nacional e
internacional, relacionando-a com o sindicalismo e o meio rural; de
outro, o professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do RS, Welington Zanini, que abordou a realidade, as
perspectivas e os desafios da agricultura familiar, confrontando-os com a
organização sindical e o associativismo. Juntos, os temas
complementaram-se e, na leitura do presidente da Fetag, Elton Weber,
mostraram diferentes cenários e apontaram alternativas concretas para os
trabalhadores rurais, especialmente, a partir da organização da
categoria.
   
Mendonça falou sobre a crise econômica que atinge Europa, Japão e
Estados Unidos desde 2007. Acrescentou que é a mais grave desde a
recessão de 1929, que se estendeu até a 2ª Guerra Mundial. Ele acredita
que, a atual, vai perdurar por alguns anos ainda. Apenas a China segue
crescendo, pelo menos por enquanto, mas Mendonça pensa que os produtos
chineses baratos estão com dias contados. Enquanto a Europa corre o
risco de romper a unificação, o crescimento do Japão está praticamente
estagnado há 20 anos, situação que acabou se agravando com o Tsunami e o
consequente acidente nuclear, e os Estados Unidos estão divididos no
jogo de interesses entre o Partido Democrata, do presidente Barack
Obama, e o Republicano, integrado por grupos de extrema direita,
enfrentam o crescimento acelerado na distribuição de renda da população.
O economista acredita que a bola da vez está com o Brasil.
   
Ele explicou que, apesar do Brasil não escapar de uma crise
internacional, o país tem oportunidade histórica de elevar o
crescimento, aumentando a distribuição de renda. Acrescentou que, quando
há dificuldades no mercado externo, é possível voltar-se para um
projeto de desenvolvimento relacionado às necessidades da população, que
seria o substituto da globalização.
   
Para isso, diz Mendonça, o salário mínimo deve continuar crescendo mais
do que a economia – o reajuste em 1º de janeiro será de 14% (conforme
estudos do Dieese, 45 milhões de brasileiros são afetados com o aumento
do mínimo). Outra medida fundamental seria a eliminação do “rentismo”,
ou seja, daquelas pessoas que sobrevivem sem trabalhar, apenas aplicando
o capital nos bancos com lucro fácil e astronômico – a maneira de
combater essa especulação, segundo Mendonça, é através da redução da
taxa de juros. Ele defende um projeto de desenvolvimento com cuidados
ambientais e questão social diferenciada, com investimentos nas áreas de
educação e saúde. É só através da educação de qualidade nas escolas
públicas que os filhos de pobres terão uma chance de igualdade com os
filhos dos ricos, finaliza.

Organização

   
O segundo palestrante, professor Welington Zanini, defensor ferrenho dos
agricultores familiares, afirmou que, de forma alguma, grandes e
pequenos podem lutar juntos. Falou da importância da organização
sindical e disse que a agricultura familiar perde espaço na capacidade
de alocar recursos. Zanini acredita que os trabalhadores rurais devem
lutar por política de preços exclusiva, defender a preservação das
florestas com direito à indenização por parte do Estado, eleger
representantes vinculados aos pequenos. Sobre a organização, o professor
criticou a quantidade de movimentos que representam a mesma categoria,
enfraquecendo-a. Ele acredita que uma das principais bandeiras do
segmento deve ser a reforma agrária para os filhos de agricultores
familiares em detrimento do crédito fundiário.
   
O palestrante circulou por dois mundos opostos, incrustados na mesma
área geográfica. Enquanto para os grandes proprietários o campo é um
lugar para produzir com tecnologia, rentabilidade e pouca gente, para a
agricultura familiar o rural é um lugar para viver, produzir alimentos,
preservar a cultura, a natureza, a vida comunitária, lugar de escolas,
comércio, agroindústria, turismo, saúde, estradas, serviços, lazer e,
claro, pessoas.
   
Zanini analisou o cenário do campo: inserção produtiva da agricultura familiar; integração vertical da
agricultura familiar por meio de contratos com agroindústrias,
royalties; integração horizontal, com redes e cooperação; reforma
agrária visando a sucessão com políticas agrícolas diferenciadas; pela
via não-agrícola, com a inserção dos agricultores em outras formas de
trabalho.
   
Há várias visões sobre o cenário rural, conforme o professor, que fala
da estratégia dominante, de mercado, que não distingue os grandes dos
pequenos; da estratégia complementar, quando o desenvolvimento rural é
uma decisão política e levaria à solução de questões sociais, técnicas e
econômicas; da estratégia mediadora, através de política sustentável,
que requer governo e estado fortes; da estratégia realista, via mercado
não-agrícola, quando a agropecuária não viabiliza a agricultura familiar
e os trabalhadores procuram atividades não-agrícolas, mas sem sair do
meio rural; da estratégia emergente, pela via ambiental, com o
desenvolvimento limitado pelos aspectos ecológicos, ambientais e
econômicos, quando o agricultor sabe o limite e o campo é um espaço de
vida e futuro.

Assessoria de Imprensa – 09/11/2011 – Izabel Rachelle (51-9325-2162)