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Setembro Amarelo: O papel do movimento sindical nas ações de prevenção ao suicídio

 

O Setembro Amarelo, campanha nacional de prevenção ao suicídio, ganha uma relevância especial no contexto rural. No Brasil, onde a agricultura, em especial a familiar, tem um papel central na economia e cultura, os desafios enfrentados pelos trabalhadores do campo geram preocupações crescentes sobre a saúde mental dessa população. Isolamento, dificuldades financeiras, pressão do trabalho e acesso limitado a serviços de saúde mental são fatores que contribuem para um cenário alarmante entre agricultores e trabalhadores rurais.

 

Desafios da Vida no Campo
A vida no campo, muitas vezes idealizada pela proximidade com a natureza e pela simplicidade, pode esconder uma realidade difícil e solitária, afinal, produzir alimentos é uma atividade marcada por incertezas constantes, como variações climáticas, oscilações de preços e pragas que podem comprometer colheitas inteiras. Essas dificuldades econômicas, somadas à falta de apoio psicológico e à distância dos centros urbanos, criam um ambiente propício ao surgimento de problemas de saúde mental.

Estudos recentes apontam que o índice de suicídio entre agricultores é maior do que em outras profissões. O isolamento geográfico e social, a pressão para manter a produção e a falta de assistência adequada aumentam a vulnerabilidade dessa população. Em muitas regiões, o estigma em torno da saúde mental e a dificuldade de acesso a serviços especializados agravam ainda mais a situação.

 

Iniciativas de Conscientização e Apoio

O movimento sindical tem promovido iniciativas para lidar com a saúde mental dos agricultores familiares. Na Regional Sindical Missões II, foram formados 27 grupos de trabalho nos 10 Sindicatos dos Trabalhadores Rurais.

O projeto, que surgiu em 2016, e se fortaleceu em 2021 partir da parceria com a Enfoc, é coordenado por Claudete Druzian, que também é coordenadora da Comissão Regional de Mulheres Trabalhadoras Rurais. Ela relata que a ideia surgiu da necessidade de cuidar da saúde mental dos agricultores familiares, visando, principalmente, à prevenção do suicídio, depressão, ansiedade e feminicídio. Claudete conta que, por meio de uma pesquisa, os grupos identificaram as localidades onde seria necessário intensificar as ações.

Os grupos atuam dialogando com as famílias por meio de visitas de assistentes sociais e psicólogas, além de outras atividades, como palestras, brincadeiras, aulas de artesanato e culinária.
“Nos encontros, sempre alguém percebia que outra pessoa deveria participar e, no evento seguinte, essa pessoa estava presente. Conseguimos criar uma excelente relação de confiança com as famílias”, diz Claudete. “Tivemos o caso de uma senhora que planejava matar o marido, o filho e depois tirar a própria vida, pois não suportava mais a pressão. Hoje, ela é uma liderança dentro do sindicato”, completa.

Embora o trabalho seja liderado principalmente por mulheres, os homens também passaram a participar dos grupos, que reúnem mais de 700 pessoas. Os resultados são evidentes: diversas famílias foram auxiliadas e várias vidas foram salvas, promovendo mais qualidade de vida, autoestima e demonstrando que pedir ajuda não é um ato de fraqueza, mas um ato de amor.