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O agricultor é um especialista em vencer crises

Natural de Cachoeira do Sul, Carlos Joel da Silva nasceu em 12 de maio de 1966. Profissão agricultor, ensino médio completo e vários cursos de formação e organização sindical, ele traz na bagagem 23 anos de vida no Movimento Sindical dos Trabalhadores e das Trabalhadoras Rurais (MSTTR) para enfrentar um grande desafio: presidir a Fetag.
Além de agricultor, em 1992 foi subprefeito de Três Vendas. Um ano depois ingressou na diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Cachoeira do Sul. Em 1995, além de prosseguir no MSTTR foi eleito coordenador da Regional Sindical Vale do Rio Pardo e Baixo Jacuí.
Ainda em Cachoeira do Sul foi vereador de 2000 a 2004, secretário municipal do Interior e Transportes e, também, presidente do STR.
Em 2011, assumiu a vice-presidência da Fetag e em 30 de janeiro deste ano foi conduzido à presidência da Federação, tomando posse no dia 26 de fevereiro, ao lado de outras 25 lideranças.
Nesta entrevista, Joel fala da responsabilidade que é estar à frente da Fetag, o comprometimento com os colegas de diretoria e os desafios – que não são poucos- para os próximos quatro anos.

Jornal da Fetag – A Fetag tem hoje filiados 350 Sindicatos dos Trabalhadores Rurais no Estado, congregando mais de 1,3 milhão de trabalhadores rurais. Como o senhor se sente à frente desta entidade tão representativa?
Carlos Joel da Silva – Em primeiro lugar, orgulhoso por presidir uma entidade com a importância que tem a Fetag no cenário do Rio Grande do Sul, do País e também do mundo. Somos uma das maiores federações de trabalhadores na agricultura familiar da América Latina. Em segundo lugar, nos sentimos com uma responsabilidade muito grande, já que por trás dessa organização existe mais de 1 milhão de pessoas que temos que representá-las da melhor maneira possível. É através do nosso trabalho que fortalecemos a atividade dos agricultores e agricultoras, a razão de ser do sindicato e da Fetag. Sem agricultores não haveria sindicato e Fetag. Aliás, não teríamos alimentação. Então, a importância que tem a Fetag, bem como o nosso trabalho ao lado dos colegas de diretoria, é criar condições para a melhoria da qualidade de vida de homens e de mulheres que produzem os alimentos que vão à mesa de cada um dos brasileiros.   

Jornal da Fetag – Logo após o encerramento do Congresso Eleitoral da Fetag, em entrevista à imprensa, disseste que o MSTTR saiu fortalecido. E adiantou as principais metas da diretoria. Quais são elas?
Joel – Nós precisamos estar fortalecidos para vencer as dificuldades que vêm pela frente. Hoje paira uma preocupação grande na agricultura familiar: a sucessão rural. O meio rural está ficando com as pessoas em idade avançada. E os jovens, por sua vez, estão indo embora. Diante deste contexto, precisamos criar as condições para que a juventude permaneça no campo. A Fetag vai trabalhar forte no acesso à terra e  melhorar a qualidade da renda dos agricultores. Isto abre um leque, já que fala em custo de produção, seguro agrícola, financiamento e preço de produto para que se tenha lucratividade e renda.

Jornal da Fetag – A questão social não pode ser considerada um outro leque?
Joel – Exatamente. Temos problemas na habitação, saúde, segurança, educação e, ainda, na Previdência Social. Enfrentamos dificuldades com o crédito fundiário, que não está funcionando; a reforma agrária, que parou no País; a habitação está devagar, quase parando; a segurança pública é um fiasco; a saúde no RS e no País como um todo enfrenta inúmeras dificuldades, como acesso à maioria da população e ainda bem mais para os agricultores, que estão longe dos centros das cidades; e, acima de tudo, a Previdência Social, já que estamos ameaçados de perder direitos adquiridos. Então, cabe ao movimento sindical realizar um trabalho forte para garantir e melhorar todos esses segmentos. Só assim a juventude olhará o meio rural e sentirá que ali existe oportunidade de trabalho e viver com qualidade, a qual não se tem hoje.

Jornal da Fetag – O que fazer para “driblar” a crise na maioria dos setores?
Joel – Muito trabalho. Inicialmente que a nossa política seja moralizada. O País enfrenta crise financeira, política e a mais grave, em minha opinião, a moral. Se entendia a política como um trabalho pela melhoria da qualidade de vida do povo. E hoje se vê alguns políticos que a usam para se autopromover e melhorar sua qualidade de vida, bem como de seus familiares, em detrimento da população.  Então, precisamos moralizar a política. Os recursos que estão saindo dos ralos da corrupção são os mesmos que faltam para os programas sociais, inclusive para a Previdência Social. Há um trabalho grande das entidades, que precisam se unir e cobrar do setor público uma maior efetividade de atuação voltada à população. Da crise só se sai, principalmente a financeira, com muito trabalho. O agricultor é um especialista em vencer crise. Não são raros os anos em que eles perderam toda produção devido às intempéries. E na próxima safra respondem com produtividade. O que precisamos é o País deixar de ser setorial, isto é, existem segmentos que recebem muito dinheiro em detrimentos de outros, como a agricultura. Sua cadeia produtiva é formada por diversos setores, como máquinas, adubos, defensivos, sementes, bancos, entre outros, que ganham bastante na cadeia. E justamente o produtor é o mais penalizado. É necessário repartir melhor o bolo, o que só vai ocorrer com trabalho, união entre as entidades e os próprios governos. A saída está na agricultura. Ela responde rápido. Basta investir. Não é cortando seus recursos.

Jornal da Fetag – O que é possível prometer em nome da diretoria da Federação?
Joel – Acredito em nossos colegas de diretoria e de seu apoio, assim como de todos os Sindicatos dos Trabalhadores Rurais. Fazer uma forte parceria com as demais entidades para vencer os obstáculos. O que prometemos é muito trabalho ao longo desses quatro anos em defesa do trabalhador rural. Sabemos para quem trabalhamos e o que a agricultura necessita. Queremos estar mais próximos dos agricultores para atender suas reais necessidades e sair em busca de soluções para seus problemas. Em síntese, vamos trabalhar forte para melhorar a qualidade de vida de homens e mulheres que produzem os alimentos e que vivem no meio rural. Queremos um meio rural com gente e não só com máquinas. Por isso, defendemos a agricultura familiar, a sucessão rural e que ao final de cada safra eles possam ter renda.

Assessoria de Imprensa – 02/03/2016