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Leite: mercado vai se equilibrar com oferta e procura

FETAG – O que está acontecendo com a produção de leite no Rio Grande do Sul?

Márcio Langer – Na verdade, tivemos dois meses satisfatórios do ponto de vista de remuneração. Leite produzido em junho – pago em julho – e produzido em julho – pago em agosto. Pode ser dizer que foi uma remuneração condizente com aquilo que o produtor espera na maioria das empresas, o que deixou os produtores satisfeitos e podendo ter um olhar novamente “carinhoso” com a atividade que merece atenção.

 

FETAG – Que faixa de valores o produtor recebeu nesse período?

Márcio – Houve uma variação muito grande, principalmente no mês de agosto, variando de R$ 1,10 a R$ 2,10, dependendo da empresa, do volume e da localização do tambo. Assim, o produtor estimulado pela indústria, mídia e demais processos, que havia uma visível e real falta de leite no mercado. Vínhamos em um decréscimo de produção desde dezembro de 2015, em especial nos meses de janeiro, fevereiro e março, com quedas expressivas, consequências do alto calor neste período, seguido de excessos de chuvas, que prejudicaram as pastagens devido a falta de luminosidade e não-desenvolvimento. Em seguida o frio intenso. Diante deste contexto, inúmeras dificuldades de rebanho, manejo e produtividade. Somado a isso um elevado custo de produção – hoje com pequena retração – com todos os insumos. Todo esse quadro fez com que houvesse diminuição na produção, o que acarretou uma procura maior pelo complexo industrial, que é grande aqui no RS.

 

FETAG – A pressão industrial caiu por cima do produtor?

Márcio – Exatamente. Isso fez com que ele se sentisse estimulado a produzir. Para tanto, passou a investir em adubação, manejo e alimentação do rebanho. A remuneração boa, digamos assim nos meses de junho e julho, pagos até agosto, vinha numa crescente. Porém, de repente, eles foram estimulados um pouco a mais do que a prudência recomendaria.

 

FETAG – E o que aconteceu com todo esse processo?

Márcio – Fruto da falta de leite no mercado – e é importante que o produtor entenda isso, bem como os dirigentes sindicais – em nível de consumidor, os preços estiveram bastante elevados nas prateleiras dos supermercados (média de R$ 3,70 até R$ 4,50), onde o consumidor é a base, isto é, o produtor precisa do consumidor. Nada menos do que 63% da produção industrial gaúcha, em agosto, foi transformada em leite longa vida, ou seja, caixinha. E essa evolução seguiu por todos os derivados, atingindo até 70% de aumento.

 

FETAG – O consumidor seguiu comprando?

Márcio – Não. O consumo retraiu. Ele buscou saídas, reduziu as compras e, inclusive, migrou para outras alternativas.

 

FETAG – Ao mesmo tempo, a produção aumentou devido aos incentivos, não é mesmo?

Márcio – Exatamente. A produção disparou. Em algumas regiões foram registradas elevações entre 12% até 20%. Esses dois opostos – retração de consumo e alta produção – prejudicam o setor produtivo. Na ponta do lápis, oferta de leite no mercado, pressão da rede varejista de supermercados forçando o leilão de leite, que é feito pelas indústrias. Essa processa o produto e precisa colocar no mercado. O mercado sabendo da situação, força a indústria e pressiona para que ela baixe o preço. Em consequência disto, se assiste hoje a uma certa retração no preço pago ao produtor.

 

FETAG – Qual a tendência nesse mês de setembro?

Márcio – A última reunião do Conseleite apontou uma retração de no mínimo entre 6% a 7%. Porém, existem algumas situações em que a queda poderá ser mais expressiva, mas vai dependerá bastante da planta industrial que a empresa compradora tem. Uma indústria que produza apenas leite em pó, a sua retração deverá ser menor, já que ele não oscilou tanto. Por outro lado, uma empresa que dependa só do leite longa vida, com certeza enfrentará mais dificuldades devido à retração.

 

FETAG – E por que tudo isso está acontecendo?

Márcio – Porque houve um descontrole da subida e queda repentinas. E qual a dificuldade que a indústria vê? Quando o produtor não se sente estimulado a produzir e não recebe uma remuneração condizente ao custo com a atividade, ele fará retração novamente. O parque industrial no RS tem uma capacidade instalada muito grande. Quando falta leite, a capacidade fica ociosa. E isso aumenta o custo para a produção da matéria-prima. Esse verdadeiro jogo de xadrez do cenário da produção de leite no Estado é um quebra-cabeças enorme e as peças movem-se muito rápido. Então, o produtor precisa ter muita cautela e carinho com sua atividade.

 

FETAG – O que poderá ocorrer daqui para frente?

Márcio – Com certeza o mercado deverá se equilibrar na oferta e na procura e, com isso, valores mais próximos da realidade. A FETAG está trabalhando junto às indústrias para que haja uma transparência total. O produtor saber o seu custo de produção – estamos trabalhando com a Emater e a Embrapa para que tenhamos isso claro e definido –, que também saibamos qual o custo de produção da indústria e, ainda, precisamos saber qual a margem praticada pelo setor varejista, por sinal, o responsável por fazer a sanfona do mercado girar muito rápido. E assim, que o consumidor possa comprar o leite dentro de sua realidade. Caso contrário, não teremos como avançar na produção. Esse quebra-cabeças precisa andar junto.

 

Assessoria de Imprensa – 12/09/2016 – Luiz Boaz (51) 9314-5699