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O campo grita por qualidade de vida

     A busca pela melhor qualidade de vida é uma obsessão do nosso tempo. Na contramão do agrotóxico, a opção pela agroecologia. No caminho entre a casa e a farmácia tradicional, a fitoterapia. Como alternativa para o cultivo no solo, as hortas verticais. Esses três temas, aqui colocados juntos, foram tema de três oficinas no segundo dia da Plenária da Terceira Idade que acontece em Luziânia até quinta-feira. 
     PLANTAS MEDICINAIS – Próximo ao posto médico, nos arredores da praça de alimentação, um cheiro de incenso espalhava-se pelo ar. Bastava fechar os olhos e seguir os comandos que o olfato e a audição mandavam ao cerébro. “Cuidar do outro faz bem, desde o dia em que eu nasci. Cuidar de mim é cuidar do outro, cuidar do outro é cuidar de mim…” A música, como um mantra, era cantada em voz mansa, de acalanto, durante a mística que, pequena para a sala, ganhou o corredor. Fátima Souza, do Coletivo de Saúde do STR de São Cristóvão, no Sergipe, massageava as costas e protegia a cabeça dos mais de 60 participantes que, em fila dupla, iam recebendo o cuidado e dando lugar ao próximo, até que todos fossem contemplados.
     Mais duas oficineiras, Mônica Silva Ramos, assessora de Mulheres e Juventude, e Maria do Carmo dos Santos, ambas do Sergipe também, dividiram as atividades com Fátima, através de dicas sobre o preparo das plantas medicinais, seu cultivo, cultura e armazenamento. Em trabalho de grupo, o desafio foi lançado: alguém falava de um problema de saúde e tinha início a discussão do tipo de tratamento indicado. Nas palavras de Mônica, o próprio SUS rendeu-se às plantas medicinais através da fitoterapia. Fátima acrescenta que só se transforma uma sociedade através da educação, respeitando a comunidade e sua cultura.
     PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA – Mais distante, noutro prédio, uma discussão ferrenha aumentou o tom das vozes algumas vezes quando o assunto agrotóxico vinha à baila. À frente da oficina, uma equipe de peso: Anderson Inocêncio, de Minas Gerais, Iridiane Seibert, natural de Santa Catarina mas há quatro anos em Brasília, integrando o Movimento de Mulheres Campesinas e formada em Agroecologia por uma universidade venezuelana e Franscisco das Chagas, de Roraima. Seu Francisco é um personagem à parte. Sessenta e seis anos, nesse ano ele vivenciou duas formaturas, a primeira em 1o de abril em Técnica em Agropecuária e, em 13 de maio, a faculdade de Agroecologia, ambas da Universidade Federal de Roraima. Um pequeno grande homem, elegante em seu terno claro e fala contagiante, deixando todos à vontade. No Sítio São Francisco, de sua propriedade, ele planta batata doce, “cultivada na palha de arroz queimado, rica em cálcio e fósforo, lisa, sem furinhos”, conta orgulhoso. 
     Enquanto a prática agroecológica foi trabalhada pelo seu Francisco, para Anderson coube a metodologia, a parte pedagógica, “as receitas”, por exemplo, da compostagem. E isso foi feito através da troca de experiências e das dúvidas trazidas pelos participantes. Com especialização em Educação do Campo, formado em Homeopatia pela Universidade de Viçosa e também técnico em agropecuária, a vocação para a agroecologia veio de casa: seu pai foi presidente do STR de Barbacena e Antônio Carlos e realizou trabalho de enfrentamento ao uso do agrotóxico.
     HORTAS VERTICAIS – Baru, pequi e ingá! Assim a engenheira agrônoma Izabel Cruxen, do Coletivo Sete Saberes, iniciou a mística do lado de fora da sala, cochichando no ouvido de cada um dos 45 participantes o nome de uma árvore… Depois, ela repetia o nome da árvore em voz alta e aqueles que pertenciam àquele grupo levantavam o pé. No meio da brincadeira, pediu que todos erguessem os dois pés! Impossível!
      Izabel disse que isso comprova a importância das plantas consorciadas para manter o equilíbrio, enquanto apenas uma espécie significa maior dificuldade para a produção. Já na sala, auxiliada por Pedro e Breno, também do Sete Saberes, era hora de colocar a mão na massa: com garrafas pet, brita, terra preparada e mudas de alecrim, manjericão, arruda, pimenta e orégano, retalhos de chita, cola e tesoura, as hortas verticais começaram a surgir, deixando um brilho nos olhos de quem produziu e também de quem propiciou o ensinamento.

FONTE: Assessoria de Comunicação da 2ª Plenária da 3ª Idade – Izabel Rachelle – 14/06/2016