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Vi rostos de todas as expressões

    Na terça-feira, dia 31, milhares de trabalhadores rurais deixaram as propriedades para ocupar as ruas da Capital do Estado. Sem qualquer oportunidade de poder medir o tempo para avaliar o cansaço, muitos saíram de casa ainda no dia anterior para um grande grito. O grito por condições de trabalhar e produzir.
Apesar de que o motivo era um só, vi rostos de todas as expressões.
     Rostos cansados, não porque passaram a noite viajando, mas porque a desesperança já entrou na propriedade e atinge ideais aflitos. Vi expressões que igual a nós, promulgam a dignidade nas tarefas diárias para cumprir a missão de produzir o alimento, ao mesmo tempo em que nas telas da imprensa o espaço é preenchido com revelações de corrupção.
     Vi rostos que querem fazer muito mais. Querem alimentar a sociedade numa proporção de 14 em cada centena. Mas tudo isso é dificultado porque as políticas públicas são indiferentes com a classe. Muitos bilhões de reais são liberados para a copa mundial de futebol e outros bilhões para as olimpíadas. Porém, quando a classe requisita apenas uma parte desse valor a título de empréstimo e devolvido com juros, precisa rastejar aos pés de um governo que diz que os recursos são escassos.
     Vi rostos batidos e abatidos que depois de décadas de trabalho e tarefas árduas, agora estão sujeitos a terem seus direitos previdenciários extintos por quem não conhece a dura realidade na agricultura. Mas, nem foi só isso. Estes mesmos rostos carregam a desgraçada culpa de serem responsáveis por um rombo bilionário da previdência. Digo sem graça porque a classe trabalhadora rural é proporcionalmente pequena. Muitos não recebem nenhum benefício. Os que recebem, o valor nunca supera a um salário mínimo. E quando recebem, praticamente só depois de meio século de atividades na agricultura.
     Se ainda há dúvida sobre a injustiça, é bom que se diga que desde o ano de 1963 a classe contribui mediante o Talão de Produtor. Mesmo assim, alguém estampa na mídia uma culpa sem graça.
     Deste grito, em Porto Alegre, vi também os rostos urbanos. Alguns, lógico, estampando o desprezo. Tudo bem. Ninguém é obrigado a gostar do trabalhador rural. Mas, também, estavam aqueles que mostravam simpatia e apoio, pois a história foi justa o suficiente para lhes provar por quais mãos passam os alimentos, por exemplo, antes que a caixinha do leite ou o aipim descascado são buscados no supermercado, entre centenas de exemplos. A estes a consciência também já lhes flagrou que, cada vez que uma porteira rural é fechada ou transformada em sítio de lazer, os consumidores urbanos tendem a pagar mais para se alimentar.
     Enfim, indiferente dos rostos de tantas expressões, desejo que a sociedade tenha a graça de amanhã e depois, seja por simpatia pelos trabalhadores rurais ou em obediência à lei da fome, ver rostos animados e dispostos a continuar produzindo o alimento que todos precisam.

Assessoria de Imprensa – 02/06/2016