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Encontro fortalece tralhadoras rurais e urbanas

     O auditório da Fetag foi palco do 5º Encontro Estadual de Trabalhadoras Urbanas e Rurais da CTB-RS, no dia 5 de novembro, que teve como tema  central “Saúde e Violência”. O evento marcou mais um passo e uma demonstração do enraizamento da central sindical na luta das mulheres organizadas no campo e na cidade e teve como saldo o empoderamento das mulheres trabalhadoras, que saíram ainda mais conscientes de seu papel na sociedade e entusiasmadas para seguir construindo um mundo de igualdade, livre do machismo e com justiça social. 
     Os trabalhos foram abertos pela coordenadora de Mulheres da Fetag, Inque Schneider, que afirmou que a Federação tem muita alegria e satisfação em receber este encontro e fortalecer ainda mais a parceria com a CTB. “Essa atividade acontece num momento em que nós mulheres nos sentimos pequenas em relação à violência cotidiana que aumenta a cada dia. Por isso, hoje debateremos violência e saúde. Queremos dar um basta à violência e queremos uma melhor saúde para as nossas trabalhadoras”, defendeu.
     Representando a CTB-RS na abertura, a secretária-geral, Eremi Melo, criticou a conjuntura adversa a que a classe trabalhadora está submetida, atualmente. “Tanto em nível regional, quanto nacional e internacional, assistimos grandes retrocessos em nossas vidas a partir do avanço do conservadorismo”. Mais especificamente sobre o tema do encontro, Eremi falou da necessidade de se reanalisar algumas estruturas sindicais que ainda tratam com preconceito dirigentes femininas. “Temos que falar aqui não só da violência que parte do Congresso Nacional com a aprovação de leis que trazem retrocesso, mas também da violência que parte de dentro das nossas entidades sindicais e que precisamos refletir. Não se avança fazendo política apenas da porta para fora, precisamos discutir internamente a real igualdade de gênero”.
     O vice-presidente da CTB-RS, Sérgio de Miranda, falou em nome da CTB Nacional e representou os homens na mesa de abertura. “Uma das grandes virtudes da nossa central é justamente essa integração entre trabalhadores e trabalhadoras. Vivemos muito tempo olhando de um lado os trabalhadores da roça, do campo, e do outro os trabalhadores da cidade, como se eles fizessem parte de uma sociedade diferente. Da mesma forma, olhava-se muito para os trabalhadores rurais como sendo aqueles que não sabiam fazer outra coisa e, por isso, foram ser agricultores. Mas hoje felizmente – e a CTB tem papel importante nisso – existe uma unidade na prática e não só no discurso, entre o campo e a cidade na luta por direitos trabalhistas e esse encontro é expressão disso”, justificou.
     A secretária da Mulher da CTB-RS, Lenir Piloneto Fanton, afirmou que em todos os encontros o tema da violência esteve presente nos debates. “Abrimos o jornal, ligamos o rádio, a televisão, acessamos às redes sociais e todos os dias encontramos notícias e relatos de violência contra as mulheres. A pergunta que não quer calar é: até quando isso vai continuar?” Lenir apresentou dados da violência contra as mulheres no Brasil: espancamentos acontecem a cada dois minutos, um estupro a cada onze minutos, um feminicídio a cada 90 minutos, 170 atos de agressão por dia e 43 mil mulheres assassinadas em dez anos. “Quanta gente sofre violência, mas não denunciam por medo? Quantas não estão aqui hoje, neste encontro, porque alguém lá no sindicato ou na fábrica não permitiu? Não podemos fechar os olhos pra isso” e concluiu: “a receita é que devemos seguir unidas até que todas sejamos livres”.
     Também fizeram parte da mesa de abertura a diretora do Departamento de Políticas para as Mulheres do Governo do RS, Salma Farias Valêncio; a presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, Fabiane Dutra; e a Secretária de Mulher do PSB-RS, Maria Luiza Loose. Suas falas reforçaram a necessidade de auto-organização das mulheres e da participação feminina na Conferência Estadual de Mulheres que acontece neste final de semana (7/11 e 8/11), em Porto Alegre.

      Assédio moral e sexual

     Ainda na parte da manhã, a advogada e membro do Opinio Iuris – Instituto de Pesquisas Jurídicas, Mara Loguércio, ministrou a primeira palestra com foco no tema violência, assédio moral e sexual. A mesa foi mediada por Inque Schneider e pela diretora de Assuntos da Mulher do Sindicomerciários de Caxias do Sul, Ivanir Perrone.
Em sua apresentação, Mara afirmou que o “assédio moral é violência psicológica. Às vezes, achamos um tapa ou um soco, uma violência muito grande, mas tem palavras que valem tanto quanto. A palavra que para mim mais define o assédio é humilhação. Portanto, todo comportamento abusivo que por sua repetição ameaça a integridade física ou psíquica de uma pessoa, pode ser considerado assédio”. 
     Mara também disse que “o objetivo do assédio é fazer com que a pessoa fique tão cansada, tão esgotada de suas consequências, que desiste do trabalho. A glória de toda a agressão é que se peça demissão ou mesmo que se desista de direitos. Por isso, muitas vezes, a vítima se convence de que ela própria é responsável por erros e situações negativas, por acreditar em sua ‘incapacidade’, a vítima custa a ver que foi um ato voluntário do agressor”. 

     Saúde da mulher
     No início da tarde, a primeira Secretária da Mulher da CTB Nacional, Abgail Pereira, saudou o encontro e afirmou que o mundo do trabalho possui uma divisão sexual. “Outrora, as mulheres não podiam exercer funções que eram ditas ‘masculinas’. Hoje, ocupamos todos os espaços e profissões, demonstrando assim que somos capazes de fazer qualquer função”. Trazendo uma reflexão, Abgail questionou onde as mulheres não estão inseridas verdadeiramente. “No movimento sindical e na política”, respondeu. “Ainda somos muito pequenas nesses setores. Infelizmente, somos minoria nos locais onde se discute o poder e se tomam decisões”, finalizou.
     Em seguida, teve início a segunda palestra do evento, sobre saúde da mulher, ministrada pela assessora parlamentar da saúde, Maria Beatriz Kunkel. A apresentação foi coordenada pela tesoureira do Sindesc, Vera da Luz, e pela vice-presidente do Simdilimp de Caxias do Sul, Azenira Lazorotto.
     Em sua explanação, Maria Beatriz falou sobre as principais doenças que atingem as mulheres como o câncer de mama, de útero, doenças emocionais e também sobre o papel do Estado nessa pauta. “A pobreza, a desigualdade social e a falta de políticas públicas de saúde de Estado são fatores que influenciam na vulnerabilidade da saúde das mulheres. Muda-se o governo e, como consequência, trocam-se todas as equipes, propostas e planejamentos para a área da saúde. Não há continuidade nos projetos. Por isso, devemos reivindicar a política da saúde da mulher como política de Estado e não de governo”. 
     Ao encerrar sua fala, Maria Beatriz foi questionada por algumas participantes de por que a população vem adoecendo tanto. “Muitos de nossos hábitos, que consideramos inofensivos, estimulam doenças, como o uso excessivo da pílula anticoncepcional e salgadinhos industrializados com aromatizantes e corantes. Precisamos ter mais consciência do que ingerimos e do que damos aos nossos filhos”, completou.

     Novo encontro
     No encerramento do evento, a secretária da Mulher da CTB-RS, Lenir Piloneto Fanton, consultou a plateia sobre o interesse das mulheres na realização de uma próxima edição do encontro e a aprovação foi unânime. Assídua em todos os encontros, a trabalhadora do SindiSaúde de Caxias do Sul, Elisa Teles Cesar, saiu mais vez contente com os ensinamentos recebidos. “Foi muito proveitoso. Aqui aprendemos e damos continuidade à luta que travamos cotidianamente na defesa dos direitos das mulheres e contra a violência. Quanto mais a gente debater e unir nossas forças, mais perto chegaremos de nossos objetivos”, declarou.
     Já a trabalhadora do comércio de Caxias do Sul, Liziane Cavalli, afirmou que o “encontro foi muito importante, pois abordou mais uma vez a questão da violência, do assédio moral e sexual nos ambientes de trabalho. Serviu também para fazermos uma avaliação das entidades que representamos, pois também ouvimos relatos destes problemas acontecendo dentro das instituições. Isso servirá para uma ampla reflexão a fim de que se volte ao local de trabalho com disposição para debater algumas questões e vê-las de forma diferente”, observou.
(Texto: Lucas Maróstica/CTB-RS)

Assessoria de Imprensa – 06/11/2015