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Produtor vai enfrentar dificuldades para fechar as contas

A FecoAgro/Rs divulgou hoje (16) o 53º Estudo Técnico da Estimativa de Custo das Lavouras de Verão no RS – milho e soja safra 2014/2015 – e a revisão de custo das lavouras de trigo.

O estudo de custo de produção realizado pela Federação há 53 anos demonstra algumas informações importantes que contemplam detalhes para serem observados na elaboração do orçamento de gastos para formação das lavouras de verão e inverno. No trabalho, levou-se em consideração a relação de insumos básicos, com padrão médio de uso de tecnologia para se implantar uma lavoura considerando o uso de sementes tratadas, quantitativo de fertilizantes e demais agroquímicos recomendados pela pesquisa, duas dessecações, três aplicações de inseticidas, quatro de fungicidas, considerando os serviços de semeadura, dessecação, aplicações que variam entre seis  e oito entradas na lavoura, até a colheita e entrega da produção na cooperativa.  
Apesar da expectativa favorável, em termos de produção e de produtividade das lavouras gaúchas, a tendência do resultado econômico tem preocupado os produtores, tanto para as lavouras de inverno quanto de verão para safra 2014/15. A forte queda nas cotações agrícolas nos últimos meses vem comprometendo a rentabilidade das principais culturas no Estado (soja, milho e trigo). O cálculo das estimativas de custos, realizado pela FecoAgro/RS em setembro, apontou que, a receita obtida com a venda do milho e do trigo será insuficiente para cobrir os custos de produção dessas lavouras. No caso da soja, os dados indicam que o produtor vem obtendo menor receita e lucro nos últimos três anos. O momento é preocupante diante do cenário econômico que poderá afetar ainda mais a safra 2014/15 de verão em início de plantio e a de trigo em andamento, com aumento de custos e queda do preço no mercado internacional e interno até o final do ciclo. Tudo indica que o produtor terá um ano difícil para fechar as contas diante deste cenário.

SOJA

Os cálculos que avaliam o custo e a rentabilidade para a soja safra 2014/15 foram realizados com base nos preços praticados na primeira semana de setembro. O custo total de produção da soja ficou em R$ 2.097,34 por hectare. A produtividade média considerada no trabalho foi de 3.000 quilos por hectare (50 sacas de 60kg). Considerando o preço de R$ 54,00 a saca de soja, a receita apurada foi de R$ 2.700,00 por hectare, para venda no início de setembro de 2014. Os dados sinalizam recuo no lucro na oleaginosa em relação à safra passada, que era de 55,74% em outubro de 2013, caiu atualmente para 28,73%, reduzindo a rentabilidade de R$ 984,71 por hectare para R$ 602,66 neste ano em função dos preços menores e custos maiores.
Caso as cotações em Chicago ficarem abaixo de U$$ 10 bushel e, dependendo da variação cambial e outros fatores (clima, pragas, doenças etc…) o nível de rentabilidade poderá piorar. Essa conjuntura exigirá do produtor uma maior atenção na gestão de riscos no decorrer do ciclo produtivo, desde o plantio até a venda da futura safra.A estimativa da Federação é de que a área com soja no Rio Grande do Sul cresça em 5% com uma área a ser cultivada de 5 milhões de hectares com potencial de produção de 13 milhões de toneladas.

MILHO

Em relação ao milho, o custo estimado da FecoAgro/RS foi de R$ 2.183,63 por hectare, apontando equilíbrio entre receita e despesa. A lucratividade para o cereal, safra 2014/15, indica resultado levemente negativo de 3,83%, equivalente a um prejuízo de R$ 83,63 por hectare, patamar superior ao deficit de R$ 37,21 gerado na safra anterior. Para pagar estes custos o produtor precisará colher 104 sacas de milho por hectare de produtividade (6.240 kg) para atingir o ponto de equilíbrio. Aquele que colher acima desse patamar começa a ter lucro na lavoura de milho. Esse cenário é resultado da queda de preços ao produtor de 10,75% em um ano e aumento de custos de 1,33%.
Cabe ressaltar que cada produtor usa determinado nível de tecnologia, e se as condições de clima forem favoráveis, ele poderá ter ganho de produtividade refletindo no custo e na receita, diferenciando resultados em termos de rentabilidade, caso o desempenho da lavoura for boa. Diante disto, o produtor gaúcho, mais uma vez, preferiu plantar mais soja do que investir no cultivo do milho devido à expectativa de lucro maior na oleaginosa, no momento da decisão do que plantar neste ano. Nossa projeção é de uma área plantada de 930 mil hectares, redução superior a 6% em relação à temporada anterior com potencial de produção de 5,5 milhões de toneladas. Abaixo da demanda que leva o Estado a importar anualmente mais de 1,5 milhão de toneladas para abastecer o setor de produção de carnes, leite e outros usos.

TRIGO REVISÃO

No caso do trigo, a queda do preço e a incerteza em relação à comercialização da nova safra preocupam os produtores e cooperativas. No intervalo de um ano o preço pago ao produtor caiu de R$ 35,98, base setembro de 2013, para R$ 26,00 a saca, queda de 27,74%. Estamos diante da perspectiva de aumento da oferta interna somado ao volume de trigo que ainda não foi comercializado (400 mil toneladas da safra velha no RS) e com o início da colheita e outros estados aliado às consequências da isenção da TEC para importação de terceiros mercados que pressionaram para baixo os preços nos últimos meses. Ocorreu, também, queda na demanda por parte dos moinhos brasileiros, em função de que muitos deles estocaram compras externas sem TEC.
Nessa conjuntura, a FecoAgro/RS fez a revisão dos custos de produção de trigo que ficou em R$ 1.902,54 por hectare considerando a produtividade de 50 sacas. Ao preço de R$ 26,00 a saca, base primeira semana de setembro 2014, representa um prejuízo nas contas de R$ 602,54 por hectare. Supondo que o produtor venda a safra pelo preço mínimo trigo pão tipo 1 por R $33,45 a saca, o prejuízo por hectare reduz para R$ 230,04. Para cobrir o custo o produtor precisará produzir 73 sacas, ou seja, 4.380 quilos por hectares do cereal, considerando o preço de mercado de R$ 26,00 e necessitará colher 56,87 sacas (3.420 quilos por hectare) se vender pelo preço mínimo trigo pão tipo 1. Comparando com a safra anterior, os preços caíram em 27,74% afetando a rentabilidade. A receita prevista para o trigo é de R$ 1.300,00, cobrindo 94,6% do custo variável e remunerando apenas 68,33% do custo total de produção. 
Segundo estimativa da Conab, a safra brasileira de trigo deverá ser de 7,5 milhões de toneladas sendo que o Rio Grande do Sul deverá colher 3,3 milhões de toneladas. Somando 400 mil toneladas remanescentes da safra anterior teremos uma oferta superior a 3,5 milhões de toneladas. Contabilizando importações de 251 mil toneladas do cereal de janeiro a agosto deste ano, vamos ter um suprimento da ordem de 3,9 milhões de toneladas no Estado ante uma demanda de 1,4 milhão de toneladas para uso industrial, reservas para sementes e outros usos. Neste cenário, o trigo é o produto que precisará de mecanismos de apoio para a comercialização por parte do governo federal para dar liquidez na hora do produtor vender a nova safra. 
Durante a Expointer, o ministro da Agricultura, Neri Geller, anunciou a liberação de R$ 150 milhões para realização de leilões de Prêmio Equalizador ao Produtor Rural (PEPRO) para trigo e R$ 200 milhões para aquisição do Governo Federal (AGF) do cereal. Nossa solicitação feita ao governo federal, através da Câmara Setorial das Culturas de Inverno, foi de ajuda na comercialização de 3,1 milhões de toneladas de trigo para a safra atual. Portanto, os recursos divulgados são insuficientes para atender a demanda do setor. Segundo a Conab e IBGE, as projeções indicam que o Brasil poderá colher uma safra de grãos em 2014/15 de 195 milhões de toneladas, 3,6% superior a de 2013. Para o RS, as previsões são de uma safra de 30,4 milhões de toneladas contra 30,2 milhões colhidas na temporada passada. Isso representa 15,59% a participação do Estado na produção nacional de grãos.
A dúvida do setor é de como será o cenário econômico a partir de 2015 e seus reflexos para o agronegócio. Além disso, os ganhos de produtividade da nova safra compensarão os aumentos de custos e queda do preço das commodities, amenizando o recuo da receita e da rentabilidade das culturas de verão e inverno? Nosso objetivo diante deste estudo é avaliar a expectativa de rentabilidade a cada safra, bem como servir de orientação ou referência para as áreas técnicas das cooperativas e também ser referência nas discussões das políticas públicas para o setor junto ao governo federal. A pesquisa de preços foi realizada junto aos departamentos técnicos e comercial das cooperativas e nos pontos de vendas de máquinas e equipamentos na região de produção, procurando ser o mais representativo possível no Estado.   Obs.: Cabe lembrar que cada unidade de produção e região possuem características de solo e nível tecnológico distinto. Este estudo sinaliza uma estimativa de rentabilidade dentro de uma tecnologia considerada média.

Paulo Pires, presidente da FecoAgro/RS
Tarcisio Minetto, superintendente da FecoAgro/RS – responsável técnico pelo Estudo

Assessoria de Imprensa – 16/09/2014