NOTÍCIAS

Radamés conta sua história para o Brasil

     Sete integrantes da Comissão Estadual de Jovens da FETAG-RS embarcaram ontem (24) para Vitória, no Espírito Santo, onde participam do Encontro Região Sul e Sudeste de Jovens Empreendedores na Agricultura Familiar, de 25 a 28 de outubro, no Centro Dom João Batista durante, promovido pela CONTAG. Além da delegação gaúcha, estão presentes agricultores familiares de Santa Catarina, do Paraná, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. A coordenadora de Jovens da FETAG, Diana Hanh Justo, disse que além de conhecer o que os outros estados estão fazendo, será levada a experiência de vida do jovem Radamés Rodrigo Borchardt, de Três Passos.
     Com 30 anos de idade, Radamés mora com a mãe Iolanda Maier (58) e a avó Herta Maier (82) na Localidade de Floresta, distante 18km da cidade. Numa área de 3,75ha eles dedicam 0,5ha à horticultura, com mais de 20 produtos, entre os quais  couve-flor, brócolis, alface, repolho, cenoura, que se transformaram no carro-chefe da família. Com a morte do avô, em 2003, ele se viu obrigado a tocar a propriedade, já que o pai não mora com eles. Em vez de uma sucessão rural, é possível dizer que Radamés assumiu os negócios da família, que eram gerenciados pelos avós e mãe.
     Assim, aos 16 anos, se viu obrigado a tomar as rédeas e dar sequência à lavoura de fumo, então a que mantinha a família. Por algumas safras decidiram continuar com a cultura, até que houve um imprevisto, lá em 2006, lembra Radamés:
– A safra não poderia ser melhor; o fumo estava com excelente qualidade. Vendemos inicialmente uma parte, a qual não era das melhores, e a classificação foi excelente. Reservamos o melhor para o final. Aí aparece um vizinho e diz que tem espaço no caminhão e oferece para levar a produção. No meio do caminho, o “amigo” troca as etiquetas da carga e recebe bem mais do que eu. Pedi a nota fiscal e só vi depois de 90 dias, quando constatei o que já desconfiava. Além do dinheiro ainda ficou com o prêmio dado pela indústria de melhor lote, que era um conjunto de panelas.
     Desiludido com o impacto, eles trocaram o fumo pela produção leiteira, a qual atingiu em 2012 o auge de 150 litros/dia. Neste meio tempo – 2006/2008-, recebe a visita de um professor, que o convida para ser aluno da Casa Familiar Rural. Ali aprendeu sobre produção leiteira e, ainda, despertou o gosto pela horticultura. No entanto, o elevado custo dos insumos, aliado aos altos e baixos preços praticados pelo mercado leiteiro, colocou em xeque não só a produção, mas a própria continuidade no meio rural. “Tivemos um grande prejuízo em 2014, o que nos obrigou a vender cerca de 6ha para quitar dívidas com a quebra do leite”, lamenta.
     Ao perceber que a horticultura poderia se tornar rentável e dar a volta por cima, desde 2013 trabalha com a horta, uma vez que na comunidade não havia ninguém que plantasse para vender. Iniciou os negócios com as produções de repolho e alface, vendendo na própria comunidade. De imediato constatou que tinha volume e  buscou na Feira do Produtor Rural de Três Passos, duas vezes por semana, que é da Associação dos Horticultores de Três Passos, a saída para abrir mercado. O problema seria como colocar as verduras na cidade – 18km de distância -, já que o único meio de transporte que dispunha era e continua sendo uma bicicleta.
     Então, o jeito foi pedalar. Pelo menos na primeira vez. Em seguida, passou a ir de ônibus e ultimamente de caminhonete, que é da associação. “Na primeira vez, levei cerca de 20 pés de alface e repolho. Vendi apenas três pés de alface e um repolho. Ninguém me conhecia e vi que as bancas tinham um público fiel. E como apenas uma mulher vendia verduras, com a minha chegada os fregueses tiveram mais uma opção para escolher os produtos.
     Ao frequentar o pavilhão, notou muita sujeira nas bancas e por onde circulam as pessoas. Soube que uma pessoa era contratada para fazer a limpeza, porém apenas uma vez por semana e aos sábados. Os dias de feira são terças e sextas. “Na terça já estava tudo sujo, empoeirado. Peguei uma vassoura, balde e pano e comecei a limpar  meu espaço e nas imediações. Os colegas gostaram e acabei assumindo o serviço. O ganho é pouco, mas, pelo menos, sei que o ambiente fica limpo e acolhedor nos dias de visitação de público, o que é fundamental. Até as bancas receberam pinturas, o que também ajuda”, justifica.
     Hoje, conta Radamés, a horta se tornou sustentável, não quer mais sair da propriedade e tem projetos de melhorias. Além de sua produção, carrega produtos de outras cinco famílias. “Claro que tenho que ganhar um pouquinho, caso contrário os vizinhos não teriam para quem vender e como vou para a feira”, conta. Na ponta do lápis, Radamés diz que tem faturado bruto R$ 500,00 por feira, isto é, cerca de R$ 4 mil/mês. E quando sobram produtos, para não voltar com eles, vende em restaurantes, lancherias e mercados. Também distribui para diversas entidades, entre elas o Lar Acolhedor, Hospital de Caridade, Asilo São José, Lar Doce Lar e o Projeto Pvida Nova. “A bicicleta levo sempre comigo para retornar para casa”, completa.  

Assessoria de Imprensa – 25/10/2016 – Luiz Boaz (51) 9314-5699